artigo julho22

Há alguns anos atrás, acompanhei meu marido em uma viagem aos USA onde ele iria participar de uma Feira de Negócios e Exposição em Orlando. Procurei por cursos perto do local da Exposição e acabei encontrando um curso livre, no mesmo centro de exposições! Fiquei muito feliz e fiz minha inscrição, temendo não ser aceita pela dificuldade com a língua que eu tinha naquela época. Mas, aceitaram e eu fui toda faceira! 

Fiz uns sabonetes de extratos e aromas brasileiros, embrulhei no capricho e fui lá fazer meu curso. Era na área de costura, onde, entre ensinarem a usar uma máquina portátil específica, porém caseira, e mais alguns truques de decoração com o quilt.

No primeiro dia de aula fiz minha média entregando os presentes aos alunos (por sorte  levei presentinhos em quantidade suficiente), e fui na minha mesa para aprender as técnicas de costura. Gente super solícita e explicavam com muito cuidado para eu poder entender! Foi muito enriquecedor!

Dentre os pontos aprendidos, um era feito com bastidor, um tipo de bordado com a máquina, esticado e preso, e este tecido era parecido com um TNT mais fininho.

E qual não foi a minha surpresa, quando,  depois dos pontos aplicados, teríamos que molhar o trabalho, e o tecido desmanchava, ficando apenas as linhas entrelaçadas! Que técnica maravilhosa e surpreendente! 

Procurei este tecido no Brasil, depois que retornei e achei! O trabalho ficou guardado e eu sempre queria fazer algo a mais com essa técnica, mas não passou de eu dar algumas dicas para quem comprava esta entretela, que se chamava “AV Bye-Bye”. 

Este mês, resolvi resgatar esta técnica e confesso que já perdi o jeito! Mas, consegui fazer algumas pecinhas que valeram a pena! 

O detalhe é o que some! Fascinante! Não dá nem pra reutilizar, como um molde, por exemplo, que pode ser usado infinitas vezes! Simplesmente some! Desmancha!

Fiquei pensando se este tecido fosse orgulhoso  e não quisesse desaparecer!  rsrsrsrsrs… quanto tempo ele iria se sustentar em suas fibras hidrófilas? 

Uma das observações da professora durante o curso, e talvez a mais importante, é que as tramas costuradas não precisam ser densas, mas precisam entrelaçar umas às outras, para que não desmanchem quando forem lavadas.

Então, finalmente resolvi terminar meu trabalho começado a tanto tempo! Pois até tive que lavar, pois sujou nas dobras e antes de eu costurar os acabamentos, lavei, escovei, espumei o sabão rsrsrsrs

E, para recomeçar a realizar, fiz umas pecinhas bem cheias de pontos, que mais parecia um desespero para não desmancharem! Depois, fui retomando a manha e consegui realizar alguns bordadinhos!

Fazendo uma analogia, quero ressaltar o desconhecimento da língua estranha, mesmo assim, poder compreender as dicas de entrelaçar os pontos e, de ainda hoje, poder terminar algo que comecei a tanto tempo! 

Eu não deixei de terminar o trabalho porque não havia entendido como fazer. E também não foi porque os primeiros pontos ficaram soltos e nem mesmo porque estava muito crua na técnica e depois ficou tanto tempo guardado e sujou. Eu simplesmente não sabia como terminar. Um bloqueio? Um receio de ir tão longe e não terminar com uma “estrelinha dourada”?

Confesso que, quando decidi retomar por estes dias, fiquei feliz em poder usar este material tão antigo e ainda “funcionar”!

A verdade é que eu sonhei com alguma coisa um pouco mais extraordinária do que ela realmente seria e foi. 

O curso, na realidade, era para divulgar a máquina de costura. Eu fui pra lá, atravessei o continente para participar, vim de tão longe e não comprei nenhuma máquina de costura! Imagina a decepção deles, mas foi assim porque ultrapassava a cota de valores em compras permitidas pela aduana e eu poderia perder tudo de vez. 

Minha alegria maior foi de levar um presentinho, o que me fez sentir mais “em casa”, abrindo uma porta para ser aceita logo de cara, e cair nas graças dos professores… vai que eles se importassem sobremaneira pelo fato de eu não compreender tanto a sua  língua???

Gostei do que aprendi, mas não fiquei muito certa das cores que escolhi para a minha peça, tanto dos retroses como dos tecidos. Parecia que não estavam “conversando” tão bem… e a outra coisa foi a frustração de não ter alcançado a finalização do trabalho até o final do curso, lá naqueles dias! Tudo isto me fez guardar a peça até hoje.

Mas, agora, eu vi que posso fazer uma coisa legal e retomar a técnica de bordado no tecido que se desfaz na água!

O bem bom é que eu não me comprometi com ninguém de trazer uma novidade, uma nova técnica no quilt para as alunas do meu attelier. Se assim fosse, a carga seria muito mais pesada e eu não estaria pronta para apresentar algo que valesse a pena.

O tempo necessário, a compreensão da tarefa, a escolha dos materiais e a forma de execução são os requisitos para qualquer coisa que precisa ser realizada. Abrir portas com a simpatia, compreender as dificuldades da execução e entender os propósitos dos que estão envolvidos, traz pra mim uma passagem:

I Pedro 3:15 – “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,”

Estar preparado para responder, estar preparado para ensinar, estar preparado para exercer. 

Quanto é este tempo? 

Quando olhamos para trás e vemos tudo o que já fizemos, sabemos que faríamos tudo de maneira diferente nos dias atuais! 

Percebemos que a caminhada amadurece, o tempo concretiza ou afasta certos objetivos, mas, o mais certo é que percebemos que existe um tempo determinado para toda boa obra. Existe tempo determinado para ser, para estar,  para ir e vir.

Esta semana completo meus sessenta aninhos e vejo que a contagem é regressiva já faz um tempinho… rsrsrs… o que há para terminar? O que há para se importar, para ser importante? O que há para ser feito? Acho que a minha resposta hoje para estas questões é o “como”!

Como vou terminar? Como vou mostrar que me importo? Como vou fazer para fazer bem feito? Como vou encarar? Como vou dizer sim ou como vou dizer não? 

O tempo se desmancha, assim como o tecido se dissolve na água e o que fica são as “tramas entrelaçadas” e costuradas para se sustentarem umas às outras.

Costuremos nossos objetivos com tramas que valham a pena, com sentimentos que ajudam mutuamente, com empatias que aproximam, e com a liberdade de esperar o momento certo para cada coisa! Poderia dizer isso em uma palavra: Kairós! E depois, lá no porvir, veremos como Deus “costurou” e montou nossa vida! 

Então… os bordadinhos que fiz hoje, eu coloquei no meu livrinho nr 15🤩. Mas este já faz parte de outra historiazinha!